DESIGNING SUSTAINABLE AND JUST TRANSITIONS

  • Ano: 2022
  • Local: São Paulo, Brasil - Nova Iorque, EUA
  • Panelistas: RUÍNA, Ahmed Ansari, Ahmed Best e Amir Mirza
  • Organização : Lara Penin e estudantes (Transdisciplinary Design / Parsons School of Design)

Mesa Redonda "Designing Sustainable and Just Transitions"

A RUÍNA participou da mesa redonda virtual "Designing Sustainable and Just Transitions", atividade do mestrado em Transdisciplinary Design da Parsons School of Design em Nova Iorque, EUA. Compartilhamos um pouco do nosso trabalho e tecemos reflexões ao lado de outros convidados - Ahmed Ansari, Ahmed Best e Amir Mirza. Debatemos juntos alguns dos temas fundamentais para pensarmos e agirmos no presente buscando construir futuros sustentáveis e de cooperação entre humanos e não-humanos: interconexão, mudanças radicais, visão coletiva, autonomia.

Se faz cada vez mais necessário atentarmos ao passado, à radicalidade das coisas e seus processos - a raiz - para compreender como podemos reescrever coletivamente narrativas historicamente invisibilizadas, (des)construir o que entendemos enquanto desenvolvimento e progresso e, urgentemente, aprender com aqueles cuja existência (e resistência) sempre caminhou em consonância com os movimentos do planeta.

Abaixo compartilhamos alguns trechos da mesa:

_Prompt 1
"A transição do design propõe transformações sociais lideradas pelo design em direção a futuros mais sustentáveis. Ao aplicar uma compreensão da interconexão de sistemas sociais, econômicos, políticos e naturais, ela visa abordar problemas que existem em todos os níveis de escala de maneiras que melhorem a qualidade de vida, incluindo pobreza, perda de biodiversidade, declínio da comunidade, degradação ambiental, recursos e mudanças climáticas."
—Arturo Escobar, Designs for the Pluriverse: Interdependência Radical, Autonomia e a Criação de Mundos

R: Nós internalizamos profundamente a ideia de que a natureza abrange tudo o que não é produzido pela ação humana, enquanto a cultura engloba tudo o que é (objetos, ideias, instituições, etc). Basicamente, essa ideia sugere que não fazemos parte da natureza, mas somos algo externo a ela e, mais do que isso, superiores à natureza. Essa ideia forte e radical baseou o desenvolvimento científico na Europa após o Renascimento e respaldou a Revolução Industrial e seus processos. E essa mesma ideia forte e radical tem destruído nossos ecossistemas desde então.

O mundo moderno ocidental foi moldado com base na ideia de uma dicotomia entre natureza e cultura, mas esquecemos que a cultura é uma manifestação da natureza. Vamos exercitar uma ideia aparentemente radical: consideremos que absolutamente tudo é natureza. A humanidade não inventou a cultura, pois a cultura é, acima de tudo, significado, e a natureza está constantemente inventando e dando significado a si mesma. Existem diversos rituais performados por não humanos: rituais de acasalamento, de combate, funerários. Cada um desses rituais detém características e procedimentos extremamente específicos. Isso não é de alguma forma uma manifestação cultural que não reconhecemos simplesmente porque não somos nós a executar? A interconexão é como a natureza se comporta, portanto é fundamental compreendê-la como ponto de partida das nossas reflexões e ações no mundo.

_Prompt 2
Como as ideias de mudança radical e visão coletiva desempenham um papel no futuro sustentável para o qual você está trabalhando?

R: Elas desempenham um papel central para o futuro sustentável, pois fornecem as ferramentas necessárias para que possamos nos conscientizar do sistema de produção hegemônico no mundo - baseado nas heranças do colonialismo, na extração e exploração-, e possamos imaginar e acionar caminhos alternativos, baseados no equilíbrio com o planeta e seus habitantes. A Revolução Industrial foi uma ideia radical para sua época. E a ideia de segmentação resultante dela mudou radicalmente a relação humana com suas práticas, desmontando conhecimentos em operações mecânicas e isoladas. O campo da arquitetura, como o conhecemos, é também resultado desse processo. É importante aqui interpretarmos a palavra "radical" no seu sentido etimológico, que é "origem". Ou seja, olhar criticamente a origem dos processos, para que ao agir no presente, possamos gerar futuros de coexistência harmoniosa entre humanos e não humanos. E, ao fazer esse exercício, a visão coletiva é fundamental, porque a natureza é constituída por movimentos de reciprocidade. Não há possibilidade de reciprocidade se não houver outro(s) com quem interagir durante o processo.

_Prompt 3
"‘Não podemos construir nossas próprias realidades com mais do mesmo’"
—Arturo Escobar, Designs for the Pluriverse: Interdependência Radical, Autonomia e a Criação de Mundos
"Quando falhamos em ter nossas próprias propostas, acabamos negociando as dos outros. Quando isso acontece, não somos mais nós mesmos: somos eles; nos tornamos parte do sistema de crime organizado global"
—Organizaciones Indígenas de Colombia, 2004

As citações acima são de comunidades marginalizadas falando sobre como é difícil trabalhar rumo à autonomia se você continuar operando dentro de sistemas coloniais. Com isso em mente, como os designers hoje podem enquadrar, modelar e testar cenários futuros de práticas de design que operam além das lógicas destrutivas e de curto prazo do capitalismo?

R: A apoptose é um processo programado de morte celular para manter o sistema vivo. A palavra apoptose é uma palavra grega que significa literalmente demolir. E quando cada um de nós estava sendo gestado, foi através do processo de apoptose ou demolição de certas células que nosso corpo tomou forma. Nossas mãos eram blocos inteiros antes de ganharem dedos e assim por diante com todos os nossos corpos. Neste momento, enquanto falamos, nossos corpos estão "demolindo" pele antiga para que novas células de tecido a substituam.

Na natureza, demolir é tão importante quanto construir, porque o que é novo nasce a partir do que morreu. E a vida é um continuum de vida-morte-transformação-vida-morte-transformação...

Quando informamos algo - quando damos forma a algo no mundo - , esse algo eventualmente vai morrer, e quando isso acontecer esse algo deve morrer para beneficiar o sistema e mantê-lo vivo. Tudo o que entregamos ao mundo tem essa responsabilidade. A responsabilidade primordial de manter em equilíbrio o continuum de vida-morte-transformação-vida-morte-transformação. Para os arquitetos e designers de hoje, deve ser um privilégio abraçar e se comprometer com essa jornada por meio do nosso trabalho.